quarta-feira, 23 de maio de 2012

Eu me amo! Isso basta!

   De repente a notícia! "Vamos fazer uma nova aplicação do Mabitera, está na hora"! Já fazia onze mêses desde a última.Não me fazia falta... estou bem! Mas para a ciência, nunca é o bastante... eles tem que fazer jus ao diploma. Tá bom, então vamos lá!
   Marcamos para uma quarta-feira ás 10:00 hs da manhã. Acordei apreensiva... Caramba! Não é a primeira vez que eu faço esse tratamento, a medicação foi reduzida à metade, era só um dia de "internação" e por quê o nervosismo???
  Acho que era justamente por isso! Eu sentia que "não precisava" estar passando por aquilo de novo. A doença está estacionada, o Dr. Dagoberto reduziu o remédio, era apenas um dia e eu já estaria de volta pra casa... Pra quê então???
   Eu já sei qual é o meu remédio! Sei o que me faz bem,(o que não faz também), eu realmente fui com aquela sensação de obrigação, um fardo a ser carregado... Até quando meu Deus???
    Acordei cedo, levei as crianças à escola, voltei para casa, tomei meu café da manhã e fomos.
   Chegamos  ao hospital, aquela visão que eu não queria ter..."Clínica Oncológica".
   Já escuto da secretária:
   - "Você??? Demorou hein???" (não estava atrasada, ela quis dizer que eu demorei para retornar!)
   Eu logo respondi:
  - Sim!!! Graças a Deus! É sinal de que estou bem!!!
  Me veio a sensação de: "O quê estou fazendo aqui"???
  Me sentei para aguardar enquanto meu marido ia cuidando da papelada. Ao meu lado uma senhora  em tratamento de rádio conversando descontraídamente com um senhor que ia fazer uma quimio,(ambos com ca.). E me vinha de novo o pensamento:
  -O quê estou fazendo aqui???
  Escutei a secretária falando ao telefone:
  - "A paciente do Dr. Dagoberto já chegou"
  Me mandaram entrar.
  Eu olhei para aquelas pessoas, meio sem graça (não sei porque), e disse um "Tudo de bom"!!!
  No fundo, no fundo, eu queria dizer: "EU NÃO TENHO NADA, estou só fazendo manutenção. Não estou lutando por uma sobrevida, não sei nem porque estou aqui!!!!!!!!! Vocês sim sabem, vocês sim "devem" estar aqui. Desejo do fundo do meu coração que vocês sobrevivam e que esse tratamento seja breve, e mais uma vez: EU NÃO TENHO NADA!!!!!"
   Tudo isso passou pela minha cabeça numa mega velocidade! Como um cometa em forma de letrinhas. Logo virei as costas e fui não querendo olhar para trás. Não queria fixar os olhos naquelas pessoas. Tudo aquilo ficou para trás, mesmo que no meu pensamento, eu as guardassem para minhas  orações...
  A gente nunca sabe qual o futuro delas.Fiquei me lembrando das pessoas que vi no ano passado. Onde estarão???
  A enfermeira me levou para uma sala com duas poltronas.Não gostei. Ora!!! Mesmo sendo duas poltronas de "classe executiva", eu não queria ficar lá. Perguntei a ela por quê não estava me levando para um apartamento? Eu tenho o direito!!! Ela me perguntou:
  -"Você quer"???
  Não cara pálida!!!! Eu só estou fazendo uma pesquisa!!!!!!!!
  Tem coisas que são óbvias! Eu já estava lá sem querer estar, e ela vem me colocando numa poltrona, (por mais reclinável que fosse), para ficar três horas tomando medicação???
  Me desculpe, posso ser mandona, posso ser mimada, o que for, mas eu tenho o direito de "comer o pão que o diabo amassou" deitadinha! E é assim que eu quero!
  Logo me passaram para um apartamento. Meu marido estava comigo. Se eu não tivesse falado, ele iria falar por mim, sem dúvida. Afinal de contas, ele estava lá compartilhando "o pão".
   Me deitei, pedi um cobertor, e começou a paulada. A primeira medicação foi para "preparar o estômago", a segunda, foi um antialérgico. Essa sim foi ´"punk"! Começei a ficar embaralhada, meu marido falava comigo eu respondia sim querendo dizer não, não querendo dizer sim,sentia frio, uma sensação horrorosa de total descontrole da minha "faculdade mental". Ao mesmo tempo, eu sabia tudo que corria ao meu redor. Um sono sem sono...
   Eu conseguia dormir, mas ao mesmo tempo não conseguia apagar. Bateu uma fome louca! Chamei a enfermeira. Quando me dei por mim, meu marido estava me dando comida na boca. Eu não conseguia me alimentar sozinha, tamanho o frio que estava passando. Uma sensação de hipotermia tomava conta do meu corpo. Pedia ao meu marido mais cobertor. Ele colocou o meu casaco sobre mim. Não era o bastante, eu queria mais e mais.
   Devorei o lanche em poucos minutos. Tinha mais fome. Ele desceu para comprar alguma coisa. Em pouco tempo lá estava ele de novo me dando outro lanche na boca. Eu não conseguia falar com ele. Eu me sentia um bichinho indefeso sendo alimentado pelo dono, como se eu não tivesse nenhum domínio sobre mim. Uma situação que eu não desejo pra ninguém.
   Comecei a lembrar das minhas viagens, minhas alegrias, meus momentos com a família, filhos, almoço besteirol com as amigas (onde falar de tudo é quase que obrigatório), e meu marido? meu marido, bem, meu marido eu nem precisava me lembrar! Aquela cena já falava por si só... A cumplicidade, o silêncio...
    Não desejo isso pra ninguém. O pensamento me vinha de novo: "O quê estou fazendo aqui"??? O quê meu marido está fazendo aqui??? Não desejo isso pra mim, não desejo isso pra ele...
    Terminada a sessão de uma quase "tortura", a enfermeira veio me acordar dizendo:
    -"Bela Adormecida, já acabou"!
    Bela Adormecida o c... Vem estar no meu lugar!!!!!
    Pela primeira vez, saí de lá com lágrimas nos olhos. Isso nunca me aconteceu antes. Sempre saí confiante e com a cabeça erguida. Mas desta vez foi diferente... Não era para eu estar lá... Não quero mais estar lá... Minha doença não tem cura e está estacionada. Isso é fato!!!
    Eu sei o que me faz bem,eu sei me tratar, sei qual o meu melhor remédio, sei qual o meu melhor tratamento-a Felicidade! E isso, definitivamente, eu não encontro num Centro Oncológico.
    Bora ser feliz!!!!!
  
 


sexta-feira, 11 de maio de 2012

João Carlos Martins,um ídolo!

Passei a semana pensando no talentoso e exemplo de ser humano,o pianista João Carlos Martins!
Quando o vi na TV, pensei: "Esse cara é dos meus!"
Mas logo me decepcionei um pouco. Achei aquela demonstração, de como se comporta uma pessoa com deficiência, feita com ele no programa "Profissão Repórter", um pouco denecessária.
  Sei lá... pela própria intimidade do cara, mostrar suas dificuldades assim, tomando banho, se vestindo, etc...não achei legal. Mas tem uma coisa que me chamou atenção e aí eu confesso que ele está perdoado por mim, (até porque, fiquei sabendo que tudo aquilo foi imposto a ele para fazer o programa...). Estranho, mas noves fora, vamos ao que interessa! No momento em que ele está lá, fazendo a barba, com toda a dificuldade, se cortando, se ferindo, se machucando,se auto flagelando (usei todos os sinônimos que me lembrei de propósito),eu entendi aquele homem!!!! Já o entendia antes, mas nequele momento, ele me tocou!
   Entendo quando ele respondeu ao repórter o "porque" de não aceitar ajuda: "Eu não admito!!!"
   Bom, primeiramente, (isso eu posso dizer de carteirinha), aqueles ferimentos ao se barbear, não são nada perto do sofrimento na alma ao se deparar com uma dificuldade numa função tão banal como essa. Outra: "Quem não se machuca ao se barbear????? "Gente, ele quer ser normal!!!!!!
   Entendi quando ele disse (colocando o cinto): "Eu paro, respiro fundo, me acalmo e começo tudo de novo". Eu faço isso vestindo calça! Hoje mesmo, ao sair do banho, derrubei a tampa do meu creme, e caiu naquele lugar mais morfético que pode existir, sabe aquele lugar inalcançável??? que você tem que fazer um verdadeiro contorcionismo para pegar??? Aconteceu comigo!!! Eu, respirei fundo, me abaixei, peguei (não foi fácil), mas pra mim, foi como chegar em primeiro lugar numa maratona! É uma vitória oculta, ninguém está vendo, mas eu estou, isso é o que interessa!
   Eu não vou dizer que passo por tuuudo isso extamente como ele mostrou. Passo por outras dificuldades, mas graças a Deus, eu tenho o mesmo pensamento que ele!
   Não admito também que venham me ajudar a fazer algo tão rotineiro. Uma coisa que me irrita, (sim, essa é a palavra certa), é quando eu estou sentada, vou me levantar e alguém vem pegando no meu braço para me ajudar. Quer que eu te veja com outros olhos? É só fazer isso pra mim!
  Eu sento, me levanto, tomo banho, lavo a cabeça, até faço escova em mim mesma! (ai, se meu cabelereiro ler isso). É difícil??? Às vêzes é...mas muitas vêzes não é!!!! E graças a Deus!!!
  Meu maior trunfo, é saber que estou na ativa para muita coisa, é saber que ainda tenho muuuito chão pela frente, é conseguir fazer todas minhas funções sozinha, mesmo que às vêzes árduas! Mas ainda bem que eu ainda uso o termo "às vêzes!!!!!". Aí  a Poliana enrustida (ou não...) dentro de mim, entra em ação. E nessas horas, eu a vejo como uma aliada e não como uma rélis e patética figura...como muitas vêzes eu a cito.
   A maior deficiência que uma pessoa pode ter, é a que está dentro da alma!!!!
  E viva João Carlos Martins!!!!!!!!!

terça-feira, 1 de maio de 2012

Nem tudo são Flores Parte II

...Então tá! É pra encarar? Então vamos encarar...afinal de contas, eu pedi. Jamais achei que meu médico ia me pôr numa fria. Aliás, "confiança" é uma coisa que eu sempre tive nele.
  Só pedi que me desse uns dias para que eu fosse à Formatura da Escola de meu filho que na época tinha seis anos.
  Bom, se pensando em "quimioterapia", sempre vem aquela pergunta:
  -"Vai cair cabelo"???
  -"Pode ser que sim, pode ser que não"!
  Respondeu meu médico calmamente...
  Eu, como uma autêntica "Poliana", fui para o hospital no melhor estilo "Hotel 5 estrelas". Levei meu lap top, as melhores camisolas, perfume, shampoo... No mínimo, eu achava estar fazendo tratamento em "Boston".
  Luciana!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Acorda!!!!!! Você está no Centro Oncológico, Hospital Santa Catarina, SP!!!!!
  A ficha foi caindo aos poucos... Embora o hospital já estivesse reformado, o Centro Oncológico era (lógico), o último a ser mexido! Aliás, a pergunta vinha à minha cabeça: Por quê eu estava lá se o meu problema era outro graças a Deus???
  Quem me respondia a essas e outras tantas perguntas, eram as enfermeiras. Não importava qual era a minha "patologia", eu estava fazendo um tratamento quimioterápico!
  O Dr. Dagoberto me dizia que eu "tinha que andar". Lá ia eu...com catéter no braço, toda paramentada no melhor "quesito paciente sem noção", sim, porque eu estava com a minha camisola de madame, ou seja, totalmente fora do tema.
  Via de tudo. Pessoas chorando no corredor, pessoas com os seus pijaminhas suados e amarrotados do sofrimento...pessoas  que, como eu,também "tinham que andar", mas não como eu, estavam lá lutando contra o tempo, lutando pela vida!
  Vinha à minha cabeça, o "por quê" de eu estar lá. Será que precisava mesmo? Será que minha doença é mesmo assim? Será que o médico quis me castigar por não ter aceitado o tratamento convencional? Será? Por quê? Por quê será? Tudo isso formava uma salada mista em minha cabeça. Até que eu fui me achando ridícula de estar naquele corredor. Voltei para o quarto no firme propósito de não andar mais naquele lugar. Lá não era pra mim, não era o meu caso. Não, não e NÃO! 
  No quarto, não pude usar meu lap top. Questinei à enfermeira e ela chamou o técnico da manutenção. E eu mais do que depressa, fui perguntando:
  -"Onde fica a entrada para internet aqui nesse quarto"?
  Ele suspirou e me respondeu:
  - Sra. aqui é Centro Oncológico!
  Eu já aborrecida:
 - E daí que é Centro Oncológico??? Quer dizer que todos que estão aqui vão obrigatoriamente morrer??? E mesmo que seja, eles não têm o direito de usar a internet???
  Eu já queria revolucionar o Hospital!!!! Disse para o coitado do moço que aquilo estava errado, que eu ia reclamar na direção, ia reclamar com o meu médico, que ia contar ao meu marido, porque, quando ele chegasse, ele ia querer usar a internet, e blá, blá, blá, blá, blá...
  O pobre do moço, ou não ,(afinal de contas ele estava no papel de funcionário do hospital, não de paciente), só olhava para a minha cara com aquele olhar manso, calmo, como uma pessoa comum que de repente, tem que virar um "psicólogo"! Mudo, sem externar uma palavra, só disse:
  -"Com licença" e se foi.
  Eu achava que na porta do meu quarto deveria ter uma ficha minha explicando:
  Paciente em tratamento de Esclerose Múltipla. Querendo dizer: Pode entrar, fazer festa, contar piada, ela não morde!!!
  Minha permanência no hospital durou longos quatro dias. Eu, me desanimando cada vez mais, aquela comida horrível, aquele corredor tétrico, aquele odor de hospital intermeado às doenças, às coisas terríveis... Já estavam bom, chega! Aquele definitivamente não era o meu mundo!
  Vem a hora da boa notícia- "Alta"
  Não via a hora!
  Saí de lá ainda passando mal... pedia  às enfermeiras que não contassem ao meu médico. Entrei no elevador, aquele monte de gente, diversos perfumes e eu me segurando. Entrei no carro, meu marido não queria descer o vidro, era novembro, calor, o ar condicionado não era o suficiente. Implorei que deixasse eu ir com a cabeça pra fora. Ar puro era tudo que eu queria! (mesmo que não fosse).
   Ele muito bronqueado comigo, pedia para eu pôr a cabeça para dentro (pelo menos), tinha medo dos "motoboys da vida" e eu nem aí... Eu estava passando mal, pô!!! Meu deixa!!!
  E assim, foi apenas um dos meus inúmeros tratamentos... sem dúvida o mais cruel, o mais penoso. Ao mesmo tempo o  mais significativo...
  "Não existe êxito sem dor"