quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Esperando...

      E estou aqui.. a espera de uma autorização do Convênio para fazer mais uma etapa do meu tratamento... Liga para a secretária, passa o login e senha do meu hemograma, (que eu não quero nem ver, não entendo nada mesmo), e aguarda mais mais e mais...
      Sempre acho que será a última vez que estou fazendo esse tratamento. Quando se tem uma doença crônica, está tudo bem, de repente, vem ela te puxando a orelha e dizendo: "Hello!!!! Está na hora de mais uma dosesinha!!! Achou que a vida seria fácil???"
       Tá, tudo bem, vamos lá... fico parecendo minha filha quando eu mando tomar banho! a reação é a mesma!!!
       Não tenho nada, tenho tuuudo, estou sentindo todos os sintomas ao mesmo tempo, não estou sentindo nada, estou ótima! Essa é a vida de quem tem uma doença oportunista como a minha!
      Essa semana fui a outro médico. Não gostei do que ouvi. Tem horas que a gente não quer deparar com a realidade... mas tudo bem, ele me deu uma boa opção de tratamento. Não posso desanimar... No fim, no final de tudo, no frigir dos ovos, eu conto é comigo mesma! Eu é que me dou alta, eu é que me interno.
      Não tenho a menor dúvida de que felicidade é um momento, um instante. Eu consigo ser feliz quando eu quero. Eu seguro minhas rédeas, encurto, alongo quando eu quero.
      Ao mesmo tempo, as amigas chamando  para almoçar, temos que  "planejar"!!! Planejar, planejar, planejar!!!!! Estou adorando essa palavra ultimamente. É o meu  gás, meu combustível. Uma pessoa sem planos, sem sonhos, vive uma vida vazia.
       A vida nos pega tão de surpresa! Nunca vi ninguém planejar uma doença, um acidente, um infortúnio. A gente só planeja coisas boas. Porque as ruins, aparecem sem avisar.
       Tá, vamos lá... Mas a minha realidade não é só um rostinho bonito, cheio de sorriso, com uma roupinha legal  e irradiando alegria... Passo apertado com a minha inseparável Esclerose Múltipla. Disfarço bem, essa é a realidade...
        Ao cumprimentar alguém, quando a pessoa me diz:
        "Tudo bem?"
        Nunca vou dizer:
       "Não, claro que não, minha perna esquerda está arrastando direto. Minha vista está péssima! Continuo tomando rivotril para dormir, tendo espasmos musculares, não sinto as solas dos pés, e etc, etc, etc..." Nunca!!!!! O dia que fizer isso, me interna, porque aí sim, eu  estou entregando os pontos e me dando como um caso perdido.
        Enquanto essa resposta do convênio não sai, eu vou esperando, vou tocando minha vida. Empregada de férias (desesperador), filhos de férias (eles, eu não), meu filho no Rio, feliz da vida! Minha filha na Colônia de Férias do Clube, feliz da vida também. Filhos felizes, mãe feliz!!!
        É é nisso que me apóio no exato momento. Momento esse que, faz  frio, chuva intermitente, aquele tempinho chato que eu definitivamente não gosto e, tenho que ver graça nas coisas, ficar feliz, dar um sorriso, continuar cumprimentando o porteiro o faxineiro, a vizinha...
        Essa é a graça, achar graça até quando não se tem nada para achar...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Gisele Bundchen vem aí!

    Terminei o ano na correria... É até engraçado, logo eu, falar isso... Sendo que, o que eu menos faço é correr, literalmente falando!
    Por isso, não postei nada aqui... Não por falta de assunto (tem muitos), mas por falta de tempo mesmo! 
    Primeira Comunhão do meu filho, (e eu, como uma perfeita perfeccionista), fiz absolutamente tudo, para que esse momento fosse único e bem registrado.
    Depois, como não pderia faltar, teve apresentação de Sapateado da minha filhota! Sempre linda!!! Mas a mamãe aqui, não conseguiu registrar dignamente. Ainda bem que eu paguei o cara para fazer o CD. Fica pra sempre também!
     Tudo isso, em menos de uma semana, só para me sacanear... mas tudo bem, resisti!
Em meio a tudo isso, calor de 40 graus, estress, filho de recuperação e, eu tinha que marcar  consulta com o meu neuro.
     Como ele próprio diz; "Problemas de saúde é como um cano estourado em sua casa, estourou, pára tudo e conserta, prioridade, oras"!
     Tá, mas vai falar isso para a teimosinha aqui!
     Tudo bem, marquei e fui. Cheguei lá já com vontade de chorar. Achei que fosse desabar na frente dele! Eu estava com absolutamente todos os sintomas exacerbados. Cansada, extremamente fadigada. Me sentindo mal mesmo...
     São poucos os dias que isso me acontece... de ficar chateada, aborrecida, desanimada... mas não sou de ferro...
     Chegando ao consultório, me sentei no sofá, ao lado do meu marido (que se encontrou comigo lá para voltarmos juntos), quando eu olho, à minha frente duas mulheres - mãe e filha. Ficou claro para mim que, quem tinha esclerose múltipla lá, era a filha.
      Ela estava com uma bengala canadense, exatamente igual à minha. A mãe, bem, a mãe com cara de sofrida, me olhava com curiosidade, já que dava para ver que a filha dela e eu, temos a mesma idade, o mesmo problema!
     Logo, que me sentei, fui pegando o meu celular, e fazendo as ligações nessecárias. Meu filho estava sozinho em casa, tinha que ligar para checar se estava tudo bem e, se ele estava "estudando". Minha filha estava no ensaio do sapateado, liguei para a minha funcionária para me certificar de que estava tudo bem e resolver, "como" ela voltaria para casa, uma vez que a consulta, foi um encaixe de última hora. Dei mais dois ou três telefonemas e pronto! já estava livre de preocupações!
   Minha mãe, quando me vê assim, acha graça e diz que eu pareço "uma executiva". Acho que não deixo de ser. Gosto de saber se está tudo bem, deixar tudo ok, para depois conseguir relaxar... Sei lá de onde tirei isso, não trabalho... Mas administrar uma casa, filhos, não deixa de ser um ofício e tanto!
   A mãe da moça não parava de me olhar. Me media dos pés à cabeça. Não por maldade, mas senti que teve ali no olhar dela, uma invejinha branca, aquela: "Por quê minha filha não está assim, se ela está assim"???
   Me levantei para ir ao toilette e, detalhe, sem a bengala. Não me pergunte porque, não sei responder. Aliás, essa foi a primeira pergunta que meu marido me fez quando me sentei de volta.          
   Vendo aquela moça, com um semblante entristecido, me senti ótima, como se eu não tivessa nada! E, sobretudo, acho que queria mostrar para aquela mãe que dá sim para ver a filha dela como eu!!!!! Acho que foi principalmente por isso. Não dá para explicar. Levantei uma segunda vez para falar com a secretária, sem a bengala novamente! Aquilo estava me deixando forte!
    Bom, tá... tudo bem que, o ar condicionado do consultório estava pra lá de ótimo!!!! Isso ajuda muito, em meio a esse verão enlouquecedor que estamos vivendo... Talvez, por isso também o meu desânimo.
   Meu médico, chamou-a para entrar. A vi levantando com muuuuuuita dificuldade. Se apoiou na bengala como se estivesse caindo de um precipício e aquela era a única salvação. A mãe dela, como toda mãe zeloza, ao lado , segurando sua bolsa e os famosos exames. Novamente, com muita sofreguidão. Senti muita dor ali, naquela cena... Aquilo me incomodou muito, mas ao mesmo tempo, foi para mim, uma sacudida!!!
    Passaram-se mais uns 50 min. Sim, ele estava atrasado, elas saíram da sala. Dr. Dagoberto fez menção para que eu entrasse e se distraiu com a secretária falando com ele. Eu, me levantei incontinente, (sem a bengala novamente), e segui reto para a sala dele. Meu marido veio andando atrás de mim, com a bengala na mão e me chamando, e eu, (claro que eu estava ouvindo), continuei em frente!!!
    "Essa" sou eu!!!!!!!!!!
    Quando Dr. Dagoberto entrou na sala, eu ainda estava em pé!  Com a mão na cintura, como diz meu pai, tal qual a um açucareiro, o indaguei perplexa:
    - "O Sr. nem me viu passar, não viu que eu estava sem a bengala"???
    Tenho liberdade suficiente para isso. São 14 anos, um casamento. Ele perplexo também, me pediu que então eu continuasse em pé e andasse pela sala.
    Eu estava me achando a Gisele Bundchen e, até que consegui interpretá-la por alguns minutos. Pelo menos na performance... Hehehe...
    Feito isso, ele me mandou sentar para que continuasse os exames habituais- força  nos braços, nas pernas, etc, etc, etc e tal...
    De frente com ele, mudei meu depoimento totalmente. Era como se tudo aquilo que eu estava sentindo anteriormente, estivesse ido embora pelo ralo, apenas pela simples presença daquelas duas mulheres à minha frente! Aquilo pra mim, foi uma injeção de ânimo, por incrível que pareça... Uma espécie de ressuscitação. Ressurgi das trevas, como uma fênix esplendorosa!!! Foi como se de repente, eu tivesse acordado de um pesadelo. E foi!!!!
    Saí de lá com o meu médico me dizendo que, além de estacionada, eu estava "melhorada". Isso pra mim foi tudo!!!
    Moral da História: Tá vendo como se reverte uma situação inusitadamente???