terça-feira, 1 de maio de 2012

Nem tudo são Flores Parte II

...Então tá! É pra encarar? Então vamos encarar...afinal de contas, eu pedi. Jamais achei que meu médico ia me pôr numa fria. Aliás, "confiança" é uma coisa que eu sempre tive nele.
  Só pedi que me desse uns dias para que eu fosse à Formatura da Escola de meu filho que na época tinha seis anos.
  Bom, se pensando em "quimioterapia", sempre vem aquela pergunta:
  -"Vai cair cabelo"???
  -"Pode ser que sim, pode ser que não"!
  Respondeu meu médico calmamente...
  Eu, como uma autêntica "Poliana", fui para o hospital no melhor estilo "Hotel 5 estrelas". Levei meu lap top, as melhores camisolas, perfume, shampoo... No mínimo, eu achava estar fazendo tratamento em "Boston".
  Luciana!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Acorda!!!!!! Você está no Centro Oncológico, Hospital Santa Catarina, SP!!!!!
  A ficha foi caindo aos poucos... Embora o hospital já estivesse reformado, o Centro Oncológico era (lógico), o último a ser mexido! Aliás, a pergunta vinha à minha cabeça: Por quê eu estava lá se o meu problema era outro graças a Deus???
  Quem me respondia a essas e outras tantas perguntas, eram as enfermeiras. Não importava qual era a minha "patologia", eu estava fazendo um tratamento quimioterápico!
  O Dr. Dagoberto me dizia que eu "tinha que andar". Lá ia eu...com catéter no braço, toda paramentada no melhor "quesito paciente sem noção", sim, porque eu estava com a minha camisola de madame, ou seja, totalmente fora do tema.
  Via de tudo. Pessoas chorando no corredor, pessoas com os seus pijaminhas suados e amarrotados do sofrimento...pessoas  que, como eu,também "tinham que andar", mas não como eu, estavam lá lutando contra o tempo, lutando pela vida!
  Vinha à minha cabeça, o "por quê" de eu estar lá. Será que precisava mesmo? Será que minha doença é mesmo assim? Será que o médico quis me castigar por não ter aceitado o tratamento convencional? Será? Por quê? Por quê será? Tudo isso formava uma salada mista em minha cabeça. Até que eu fui me achando ridícula de estar naquele corredor. Voltei para o quarto no firme propósito de não andar mais naquele lugar. Lá não era pra mim, não era o meu caso. Não, não e NÃO! 
  No quarto, não pude usar meu lap top. Questinei à enfermeira e ela chamou o técnico da manutenção. E eu mais do que depressa, fui perguntando:
  -"Onde fica a entrada para internet aqui nesse quarto"?
  Ele suspirou e me respondeu:
  - Sra. aqui é Centro Oncológico!
  Eu já aborrecida:
 - E daí que é Centro Oncológico??? Quer dizer que todos que estão aqui vão obrigatoriamente morrer??? E mesmo que seja, eles não têm o direito de usar a internet???
  Eu já queria revolucionar o Hospital!!!! Disse para o coitado do moço que aquilo estava errado, que eu ia reclamar na direção, ia reclamar com o meu médico, que ia contar ao meu marido, porque, quando ele chegasse, ele ia querer usar a internet, e blá, blá, blá, blá, blá...
  O pobre do moço, ou não ,(afinal de contas ele estava no papel de funcionário do hospital, não de paciente), só olhava para a minha cara com aquele olhar manso, calmo, como uma pessoa comum que de repente, tem que virar um "psicólogo"! Mudo, sem externar uma palavra, só disse:
  -"Com licença" e se foi.
  Eu achava que na porta do meu quarto deveria ter uma ficha minha explicando:
  Paciente em tratamento de Esclerose Múltipla. Querendo dizer: Pode entrar, fazer festa, contar piada, ela não morde!!!
  Minha permanência no hospital durou longos quatro dias. Eu, me desanimando cada vez mais, aquela comida horrível, aquele corredor tétrico, aquele odor de hospital intermeado às doenças, às coisas terríveis... Já estavam bom, chega! Aquele definitivamente não era o meu mundo!
  Vem a hora da boa notícia- "Alta"
  Não via a hora!
  Saí de lá ainda passando mal... pedia  às enfermeiras que não contassem ao meu médico. Entrei no elevador, aquele monte de gente, diversos perfumes e eu me segurando. Entrei no carro, meu marido não queria descer o vidro, era novembro, calor, o ar condicionado não era o suficiente. Implorei que deixasse eu ir com a cabeça pra fora. Ar puro era tudo que eu queria! (mesmo que não fosse).
   Ele muito bronqueado comigo, pedia para eu pôr a cabeça para dentro (pelo menos), tinha medo dos "motoboys da vida" e eu nem aí... Eu estava passando mal, pô!!! Meu deixa!!!
  E assim, foi apenas um dos meus inúmeros tratamentos... sem dúvida o mais cruel, o mais penoso. Ao mesmo tempo o  mais significativo...
  "Não existe êxito sem dor"

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